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"Eu sou à esquerda de quem entra. E estremece em mim o mundo. (...) Sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro. Sou um coração batendo no mundo." (Clarice Lispector)

terça-feira, 30 de março de 2010




Por que para ser feliz é preciso ter em vez de ser?
Conquistar em vez de descobrir?
Usamos "por que?" para o passado e "para que?" para o futuro...
A resposta do "por que?" já não me aflinge. Foi porque teve que ser e pronto, houve ganhos e perdas e fim.
Mas o "para que?" ainda me atormenta, me consome e me cansa....
E não pense que estou sendo pessimista, neste momento sou apenas eu.
E o pior de tudo é o tédio existencial. =/

sábado, 20 de março de 2010

Eu e meu Pato Terapeuta


Seguindo as orientações de meu querido amigo Pato (versão terapeuta) estou alterando minhas energias, deixando-as positivas, e principalmente tornando otimista os meus pensamentos, deixar de ser pessimista é muito estranho, brigo comigo mesma o tempo todo.

Mas não é que esta dando certo! mudei minha frequência a dois dias, e do nada começaram a surgir alguns seres ....

Parece que eles sentiram esta nova frequência, mas sei que ainda tenho que aumentar muito pq eles são.... como posso dizer.... uma espécie de insetos que se aproximam quando veem um pouco de luz. Eles estão na escuridão, e quando veem um pouco de luz colocam suas mascaras e partem para o ataque.
Mas eu estou prevenida, sei que por traz da mascara há um ferrão que só quer o meu sangue.( é... eu já me deixei enganar algumas vezes quando estava fraca... mas enfim)

Para quem estava na escuridão total, este já é um avançado, pelo menos sei que algo já mudou.

Na verdade já me sinto um pouco maior.

Tenhos outras tarefas que meu Pato terapeuta me deu... coisas complexas para se pensar, postarei por aqui meu avanço.

P.s sobre a foto> a diferença que o meu querido Pato é prodígio, faz tudo muito bem ^^

quinta-feira, 4 de março de 2010

Este trecho é um dos meus livros preferidos, eu já o li umas 10 vezes, sempre que eu o leio aprendo algo diferente.

Quebre este copo
(trecho de “Na margem do rio Piedra eu sentei e chorei”)

O vinho tornava as coisas mais fáceis para ele. E para mim.

– Por que você parou de repente? Por que não quer falar de Deus, da Virgem, do mundo espiritual?

– Quero falar de outro tipo de amor – insistiu. – Aquele que um homem e uma mulher compartilham, e em que também se manifestam os milagres.

Segurei suas mãos. Ele podia conhecer os grandes mistérios da Deusa – mas de amor sabia tanto quanto eu. Mesmo que tivesse viajado tanto.

E teria que pagar um preço: a iniciativa. Porque a mulher paga o preço mais alto: a entrega.

Ficamos de mãos dadas por um longo tempo. Lia em seus olhos os medos ancestrais que o verdadeiro amor coloca como provas a serem vencidas. Li a lembrança da rejeição da noite anterior, o longo tempo que passamos separados, os anos no mosteiro em busca de um mundo onde estas coisas não aconteciam.

Lia em seus olhos as milhares de vezes em que havia imaginado este momento, os cenários que construíra ao nosso redor, o cabelo que eu devia estar usando e a cor da minha roupa. Eu queria dizer “sim”, que ele seria bem-vindo, que o meu coração havia vencido a batalha. Queria dizer o quanto o amava, o quanto o desejava naquele momento.

Mas continuei em silêncio. Assisti, como se fosse um sonho, à sua luta interior. Vi que tinha diante dele o meu “não”, o medo de me perder, as palavras duras que escutou em momentos semelhantes – porque todos passamos por isto, e acumulamos cicatrizes.

Seus olhos começaram a brilhar. Sabia que estava vencendo todas aquelas barreiras.



Então soltei uma das mãos, peguei um copo e coloquei na beirada da mesa.

– Vai cair – disse ele.

– Exato. Quero que você o derrube.

– Quebrar um copo?

Sim, quebrar um copo. Um gesto aparentemente simples, mas que envolvia pavores que nunca chegaremos a compreender direito. O que há de errado em quebrar um copo barato – quando todos nós já fizemos isto sem querer alguma vez na vida?

– Quebrar um copo? – repetiu ele. – Por quê?

– Posso dar algumas explicações – respondi. – Mas, na verdade, é apenas por quebrar.

– Por você?

– Claro que não.

Ele olhava o copo de vidro na beira da mesa – preocupado com que caísse.

“É um rito de passagem, como você mesmo fala”, tive vontade de dizer. “É o proibido. Copos não se quebram de propósito. Quando entramos em restaurantes ou em nossas casas, tomamos cuidado para que os copos não fiquem na beira da mesa. Nosso universo exige que tomemos cuidado para que os copos não caiam no chão.

Entretanto, continuei pensando, quando os quebramos sem querer, vemos que não era tão grave assim. O garçom diz “não tem importância”, e nunca na vida vi um copo quebrado ser incluído na conta de um restaurante. Quebrar copos faz parte da vida e não causamos qualquer dano a nós, ao restaurante, ou ao próximo.

Dei um esbarrão na mesa. O copo balançou, mas não caiu.

– Cuidado! – disse ele, instintivamente.

– Quebre o copo – eu insisti.

Quebre o copo, pensava comigo mesma, porque é um gesto simbólico. Procure entender que eu quebrei dentro de mim coisas muito mais importantes que um copo, e estou feliz por isto. Olhe para a sua própria luta interior e quebre este copo.

Porque nossos pais nos ensinaram a tomar cuidado com os copos, e com os corpos. Ensinaram que as paixões de infância são impossíveis, que não devemos afastar homens do sacerdócio, que as pessoas não fazem milagres, e que ninguém sai para uma viagem sem saber aonde vai.

Quebre este copo, por favor – e nos liberte de todos estes conceitos malditos, esta mania que se tem de explicar tudo e só fazer aquilo que os outros aprovam.

– Quebre este copo – pedi mais uma vez.

Ele fixou seus olhos nos meus. Depois, devagar, deslizou sua mão pelo tampo da mesa, até tocá-lo. Num rápido movimento, empurrou-o para o chão.



O barulho do vidro quebrado chamou a atenção de todos. Em vez de disfarçar o gesto com algum pedido de desculpas, ele me olhava sorrindo – e eu sorria de volta.

– Não tem importância – gritou o rapaz que atendia as mesas.

Mas ele não escutou. Havia se levantado, me agarrado pelos cabelos, e me beijava.

Eu também o agarrei nos cabelos, abracei-o com toda força, mordi seus lábios, senti sua língua se movendo dentro de minha boca. Era um beijo que havia esperado muito – que havia nascido junto dos rios de nossa infância, quando ainda não compreendíamos o significado do amor. Um beijo que ficou suspenso no ar quando crescemos, que viajou pelo mundo através da lembrança de uma medalha, que ficou escondido atrás de pilhas de livros de estudos para um emprego público. Um beijo que se perdeu tantas vezes e que agora tinha sido encontrado. Naquele minuto de beijo estavam anos de buscas, de desilusões, de sonhos impossíveis.

Eu o beijei com força. As poucas pessoas que estavam naquele bar devem ter olhado, e pensavam estar vendo apenas um beijo. Não sabiam que naquele minuto de beijo estava o resumo de minha vida, da vida dele, da vida de qualquer pessoa que espera, sonha e busca o seu caminho debaixo do sol.

Naquele minuto de beijo estavam todos os momentos de alegria que vivi.

É dificil explicar certas sutilezas do amor, de um beijo, um olhar ou até mesmo de um toque.
Só entende quem sente ou já sentiu, quem já "quebrou o copo"
Já quebrei muitas coisas dentro de mim e ainda tenho muitos cacos.
Eu queria explicar e provar que este sentimento tem o poder de colorir, e é como uma fonte nova de energia e luz.
Mas quem já conheceu o outro lado deste sentimento não acredita mais, vira apenas um conto de fadas.
Eu já conheci os dois lados, luz e escuridão. Hoje estou na realidade paralela entres eles, o Vazio. Eu deveria me voltar a escuridão e viver em segurança.
Mas não sei o porquê, ainda corro em direção a luz.(que garota tola eu sou).